segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

*C - H - A - C - O - A - L - H - A - D - A*


Há quem precisa ser tratado com dureza, não é sem motivo.
Pode parecer provocações, mas na verdade a intenção as
vezes consciente ou inconsciente é de alertar os que
dormem no tempo, se acomodam. Todos merecem uma
chacoalhada no momento oportuno.
***Ana Maria Gonçalves***
***Foto minha, Ana Maria***


*IMPULSOS AUTODESTRUTIVOS*

WILLIAM SHAKESPEARE foi percursor da psicanálise; isso porque
toda a sua obra desvenda a alma humana em sua profundeza
visceral, revelando-lhe a faceta inescrupulosa e sórdida.
Foi denunciado a cobiça, o veneno, a ânsia de poder, a
vingança e outros aspectos menos prestimosos inerentes
à natureza humana que ele se antecipou a FREUD e pôs por
terra o mito do homem essencialmente bom, que quer antes
de tudo viver. Na verdade, somos também maus e todos temos
impulsos autodestrutivos.

Quando excessivos, produzem um suicida. ROMEU e JULIETA é a
obra mais conhecida de SHAKESPEARE e trata justamente desse
tema. É narrando-nos o pacto suicida dos jovens amantes que
ele nos revela um dos aspectos mais relevantes desse ato: a
vingança. O suicídio tem endereço certo e visa atormentar
com culpa por toda a eternidade a vida daquele (s) que o
suicida responsabiliza por seu ato.

No caso de ROMEU e JULIETA, são seus pais o alvo da fúria.
Como todos devem se lembrar, eram de famílias inimigas que
não permitiam o romance dos jovens: portanto, os dois não
se matam por amor um pelo outro, mas por ódio aos pais,
que os impediam de viver sua paixão. A pressa também
colaborou. Se ROMEU tivesse esperado um pouco, JULIETA
teria acordado (de seu ódio?) e ele não teria se matado,
levando-a, desta vez sim, à morte (por ódio refeito diante
do amado morto?).

O tempo é uma das qualidades dos clássicos. Ao retratar a ira
desesperada da alma humana diante da impossibilidade amorosa,
passados 500 anos a tragédia não perdeu o frescor de sua
atualidade. Todos nós, em algum momento, enfrentamos esse
drama e, possivelmente, diante da dimensão de nossa angústia
tivemos o desejo de matar ou de morrer. Os que passaram do
desejo cometeram um crime passional.

Portanto, se diante de um ódio devastador, provocado por
uma ruptura amorosa, conseguirmos não nos apressar em nos
vingar de quem nos abandonou, tentando deixá-lo culpado
pelo resto da vida, e pudermos esperar a raiva desesperada
passar, o tempo fará seu serviço. Como diziam os avós:
"Nada como um novo amor para nos esquecermos de um velho
amor". E o tempo sempre o traz.

(BEATRIZ KUHN, psicanalista e arqueóloga, é membro
da Sociedade Brasileira de Psicanálise)
(Imagem retirada da internet)

2 comentários:

xistosa, josé torres disse...

Por vezes torna-se necessário vascolejar a redoma onde está o "indivíduo".
É um chamamento à realidade.

Posso não concordar com a ideia de que Shakespeare foi um psicanalista.

"Mexeu" na alma, mas não a desvendou.
Deu-lhe o caminho ... para a glória dele.

Um abração.

Zé Carlos disse...

Obrigado pela visita menina... vc é linda, gostei muito das suas fotos.

Bjs do ZC